3 de junho de 2009
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O objetivo deste blog é proporcionar visibilidade aos trabalhos escritos em atividades acadêmicas, clínicas e contatos sociais os quais refletem experiências, insights, meditações de foro íntimo e oriundas de um convívio próximo com o sofrimento e a esperança de milhares de pessoas com as quais me relacionei pessoal e profissionalmente. Também objetivo divulgar as atividades do Projeto Ágora que abre para a sociedade um espaço livre de discussões filosóficas, psicológicas, etc.
"Dentre as inúmeras distorções, fruto da ignorância de natureza emocional, peregrino por uma nova hermenêutica da tristeza que não pode ser apartada do ser; esta pertence ao ser, expressando-lhe seus fundamentos ontológicos. Entendo que a tristeza foi solapada da gramática do afeto humano por designar o recolhimento do ser para a reflexão, e na reflexão o ser se aliena menos, se questiona mais, revê o que lhe é mais necessário, ou seja, se torna menos escravo da cultura para se converter em um produtor crítico e eficaz para a edificação de novos paradigmas." (pág. 15 - trecho da Apresentação do Livro)
"Na contemporaneidade, os modos de sofrer se transmutaram em instâncias de gozo contínuo. Não nos é mais permitido sofrer. Sofrer se tornou uma atitude marginal que situa o sofredor no âmbito do fracasso. A sociedade exige a ética da excelência e o sucesso a todo custo. É preciso estar sempre muito bem, com um sorriso estampado no rosto, espelhando uma felicidade incoercível, à frente de uma exigência tão fragmentadora da natureza humana, quando se polariza a felicidade na esfera da alegria propondo a exclusão - pelas vias de sua patologização - da tristeza como uma vivência emocional que deve ser subtraída da subjetividade humana.
Considero que a experiência da tristeza vivida e conscientizada ou mesmo elaborada no trânsito de uma psicoterapia se torna fundamental, pois o corpo de um bom psicoterapeuta representa um ninho para a aterrissagem do sofrimento de quem explana a sua dor. A tristeza pede pouso, reivindica hospedagem e o acolhimento psicológico é uma morada em meio a uma selva densa onde o transeunte perdido encontra orientação e sugestões de saída para o seu labirítinco sofrimento. Portanto, atravessar a tristeza com coragem, seja com uma ajuda profisional ou não, contribui para libertar do indivíduo seu poder pessoal e a sua criatividade, ou melhor, habilita-o para uma maior resistência existencial. E resistir é evoluir." (pág.25/26)
"Como a cultura instituiu que sentir tristeza é negativo, a pessoa acaba por se permitir na adesão aos apelos publicitários. O indivíduo não se permite vivenciar a tristeza. Elaborá-la significa mergulhar nas causas que a originaram. Este comportamento emocional da negação para vivenciar a tristeza, e que hoje, como nenhum outro tempo do passado, é compensado pelo consumismo, vem contribuindo para os processos de somatização.
Muitas dores ou doenças se originam de emoções não vividas. Bloqueadas em suas potencialidades estas se convertem em energias deletérias, destruindo o sistema imunológico. Tristeza não atualizada através de uma vivência consciente se converte em profundas angústias e essas angústias profundas se transformam em doenças psíquicas e somáticas.
Muitas enfermidades são orignárias do modo incongruente que o indivíduo contemporâneo tem existido. Nos tempos atuais, perante os sofisticados sistemas de entretenimento, diversão, opções inúmeras de fugas, fica mais fácil enganar a si mesmo.
Na era dos tempos vazios, o socorro às drogas, ao sexo desvairado, às futilidades gerais serve como tamponamento para o verdadeiro sentido que se oculta por baixo destas realizações nocivas.
A tristeza é uma emoção sem interesse algum para os sistemas de controle da atualidade. Vai contra o consumismo, a diversão, a festividade, ao carnaval, ao capitalismo, ao sucesso profissional.
Experimentar tristeza é ser um alienígena neste planetário do sorriso postiço e da alegria débil.
Vivemos o tempo do culto à mercadoria, as coisas valem mais que as pessoas, valem-se pelo que se pode consumir.
Deste modo, geramos uma desidentificação com as nossas emoções mais profundas, como presas fáceis que somos da sensação que é a dimensão de foco da Indústria Publicitária.
No afastamento das emoções geramos outros elos de identificação que nos justifiquem. Passamos a fazer a transferência para objetos, os que consumimos. Assim, vivemos na superície, flutuando sobre nossos 'eus' atomizados.
"O homem , como ser-no-mundo, carece, no vigente modelo, de pontos de conexão com este mesmo mundo que se lhe apresenta ameaçador e desamparador quando não oferece o suporte da família e dos alicerces socioculturais. O que parece também ocorrer não é apenas a depressão dos indivíduos, mas das instituições representativas da sociedade que, logicamente, passam a refletir a temperatura ideológica de seus membros. Há uma depressão institucional, o que se pode confirmar na percepção de Lipovetsky (1983) que chamou este fenômeno de depressividade generalizada. Para o autor, esta depressividade não se detém às anomalias psicológicas dos indivíduos nem mesmo às dificuldades da vida atual, mas sim à “deserção da res pública”, que limpou o território social até a emergência do indivíduo puro. Ou seja, as instituições e os veículos de socialização e doação de identidade aos indivíduos parecem também que adoeceram de uma depressão ideológica e sociológica, abandonando o homem a si mesmo, o que levou a estimular, em total permissividade social, o indivíduo a se preocupar só consigo, e o que viria argamassar mais ainda um aspecto do individualismo contemporâneo que é o ser social narcísico.
O que há é um narciso em busca insaciável a si próprio, obcecado por sua própria imagem, vulnerabilizando-se em todo momento nos embates de seu cotidiano. As cobranças socioculturais de reforçamento da auto-imagem narcísica jugulam o indivíduo a um catre de dramatização e insuportável estresse. É proibido envelhecer, engordar e é legítimo procurar a estética perfeita. O culto ao corpo e a política do consumismo desfocam o indivíduo do seu sentido de existir, criando um artificialismo que o faz adoecer psiquicamente, alijando-o a um tédio, a uma apatia, portanto, como conseqüência a um deprimir existencial. A sociedade narcísica, no dizer de Lash (1983), caracteriza, como possibilidade, o sujeito em depressão, onde existe a perda de continuidade histórica, na dissolução das territorialidades com conseqüente erosão do tempo histórico que institui uma sociedade sem base de ancoragem e acentuada opacidade." (Pág. 16)
"A liberação do eu autêntico proporciona uma clareza em nosso entendimento e oxigena nossas emoções, dando-nos uma profunda sensação de renascimento. E renascimento pessoal combina perfeitamente com um dia novo que surge como uma nova oportunidade para o exercício de nossa auto-iluminação." (pág.15)
"O casamento é uma experiência para reforçar em nós o amor, aprofundando na medida em que compartilhamos com o nosso parceiro a nossa afetividade e não quando o escravizamos exigindo deste um amor que nem sequer se pode oferecer ao parceiro, no que compele a relação ao fracasso matrimonial.
Mas lembremo-nos, hoje é um novo dia, e tu pretendes te melhorar e agora te confrontando com o teu amor, busca nele ou nela o lado humano. Imaginemos que acabando de fazer aquela maravilhosa oração ou meditação estejas renovado. Portanto, não percas a oportunidade; abraça-o ou abraça-a com profundo sentimento de reverência para com aquele ou aquela que escolheste para dividir os momentos mais íntimos da vida. sussurra-lhe palavras carinhosas. Sai de casa pensando que poderá ser o seu último momento com esta pessoa. Estes são os grandes instantes da existência. É nas coisas simples, lembremo-nos, que está o sentido da vida. Faze um comentário positivo e porque não, romântico? Fala com a alma e dize: Bom dia meu amor! Hoje é um dia especial. Mais uma vez temos a oportunidade de vivermos juntos nossa história de amor. Eu te amo." (pág.28)
Arranquei da minha flor, o meu jardim
E espremi do meu hálito o meu perfume
E vim escrever numa folha de celulose a canção das árvores.
Mas como?
Que pássaro imitaria o rugido de um leão ou o grito de um gorila,
Pássaro não canta!
Interpreta a beleza que o atravessa e o faz sangrar de júbilo.
Toda paz é pura agitação criadora
O que não se agita no cosmos , não anuncia beleza.
Talvez isso!
A lâmina se supera não quando se destina a cortar apenas, mas quando reluz o sol.
Assim, o homem, o que lhe é mais nobre não é a confecção de seu pão, mas o brado de sua poesia.
Não é o ouro que o faz brilhar, mas a sua luz própria.
Não é o seu machado, nem o seu fiar, mas a mão que se estica para doar vida às mãos hirtas dos desesperançados.
Então, caminhei sob tua frondosa sombra, ó infinito – esse pássaro de asas compridas, comprimidas na gaiola do tempo que sou,
Feito de alguns anos, e espaço que vago , eu viajo na mágica do meu pensamento e me queimo no que me acalma.
Ó labaredas das águas!
Em teu cristal liso enxergo a minha profundidade.
Ó labaredas das águas !
Viestes para matar minha sede ou para aumentar minha fome?
Em teu círculo todas as curvas se encontram.
Ó fogo! Vejo-te no interior dessas águas.
Deus é um repouso que perturba, tão grande beleza, que estufa de ânsia esse coração que bate apenas para explodir.
Não resistiria a esse encontro ó divino!
Teu cálice é muito maior que a minha vinha
E tua pérola não cabe no meu oceano.
Pois sou como um sorriso discreto que se inibe com as extremidades de teu rosto vertiginoso
É toda essa beleza!
Como queria bradar a gratidão que sinto!
São meus lábios dois barbantes musicais na busca das melodias que escaparam da boca do meu coração,
Pois o meu rosto é uma máscara por onde o meu olho vagueia na captura das paisagens diáfanas de minha alma.
Nascestes de uma ferida e morrerás de uma ferida.
A vida, corda da superação esticada entre os extremos do improvável.
Ó grande alma! Pensei que em ti descansaria. Ledo engano!
És fogo e na tua água que acalma! Pois tua água é sangue, é pura labareda!
A vida é um Deus derretido, fez-se não luz, mas líquido que reina em todo sólido.
O universo não é água, é labareda! É luz que queima.
Labaredas são tuas águas, ó vida!
Pois o teu repouso é o surto que todas as paixões e teu elixir é ácido em todas as minhas feridas, teu hálito é quente
Só quem tem alma queima e é queimado, mas num fogo que transforma
O carvão de minha dor numa vara verde para escrever alguns versos de esperança.
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Não há caminhos
Só descaminhos
Só há um caminho:
O teu olhar
Não para onde tu olhas
Mas, o que se reflete na íris do teu olho,pois
Todo fim é uma floresta, e não uma catedral.
Voar é para onde se deve ir
Todo destino é um pouso
Tudo que existe
Não foi feito para pensar
Mas, para brincar
Nada mais nos aproxima de Deus do que a imaginação.
O que é a imaginação?
É escutar uma voz que não se pronuncia?
Falar uma palavra que não se ouve?
Ou brincar com o tempo?
Onde o futuro se chega ao presente
Como quem estica o braço para agarrar o fruto mais maduro e altaneiro de uma árvore
Quem come da sua suculenta polpa
Ou quem se engasga com sua semente
Não deixa de espalhar o disperso contido na próxima árvore.
O homem que imagina não chuta pedras, semeia estrelas
Parteja dor da sua alegria.
Tudo é sombra, menos o Sol
Tudo que está sob uma Luz é falso
Qual o mistério da Luz?
É que ela não ilumina,
Revela a escuridão
Por isso o que há em minha imaginação é a minha sombra
Dançante sob o efeito do archote que existe em tudo
Eu sou a sombra da Luz que existe em mim.
É minha imaginação essa águia que sobrevoa as cinzas do meu ser
E faz compreender que o meu ninho se espalha por onde meu sentimento aterrissa
Sou um instante sólido flutuando numa eternidade líquida
Sou um habitante das profundezas de tudo que de raso existe em mim
O que é o raso, senão, o profundo que não saiu de sua superfície.
Quem habita as profundezas conhece luzes, mundos e universos incomuns
Mas, é um ser solitário
O preço da verdadeira beleza é a solidão.
Solidão é só um nome que eu daria a quem aprendeu a se dissolver na sua imaginação.
A não solidão é o desencontro consigo
A solidão é o encontro com o todo
Só o vazio preenche , nada mais , talvez!
O que não permite-se cair morre de pé!
Não é o que eu como que me alimenta
Mas, o que sustenta o que eu como – não é o fruto, é a raiz.
Não é a comida no prato que devo agradecer
Mas, o prato que me oferta a comida
É o fundo que me satisfaz.
Existe mar mais aberto que a morte?
O que nos apavora na morte é sua excessiva abertura
Sua imensurável e infinitas possibilidades de ser.
Tanto na MORte quanto no aMOR temos o Mor
E o MOR é tudo que é maior
Portanto, nada maior que o AMOR e a MORTE
São apenas pontas de uma mesma lança
Ou a MORTE é uma flecha,
Ou o AMOR é o arco
O amor como origem, o arco
A morte como o destino, a flecha
Tu, ser, que fazes isso de tua imaginação?
Sejas, tu, um hábil arqueiro, e nada mais!
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